segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Não se cale!

ARTIGO



Esta semana uma mulher muçulmana foi condenada pela corte da Arábia Saudita a 90 chibatadas e seis meses de prisão por estar na companhia de um homem, que não era de sua família e por ter sido estuprada por um grupo formado por aproximadamente seis homens.
O advogado da vitima apelou a corte e pediu absolvição da mulher. O juiz então, para reforçar ainda mais a sua ira misógina, determinou que a mulher deveria em vez de 90 levar 200 chibatadas!
Mas a pressão de grupos internacionais fez com que esta muçulmana fosse absolvida de "seu crime" e ela foi liberada de sofrer as chibatadas e assim, conforme a lei do Islã, pagar por estar acompanhada de um homem que não era de sua família, e ainda ter sido estuprada por um grupo de homens.
No Brasil, não vivemos sob a religião muçulmana, mas uma mulher quando é estuprada ainda é considerada culpada pela violência que sofreu. E os argumentos são os mais estaparfúdios possíveis e tod@s nós conhecemos.
Mesmo com toda a ação do movimento feminista frente a este tema da violência contra a mulher ter sensibilizado boa parte da sociedade, a cultura patriarcal ainda é muito forte e bastante presente. A luta então deve ser diária e contínua.
Quando se trata de uma mulher de nossa família, sempre queremos matar o estuprador ou fazer "justiça" de qualquer jeito. Mas quando se trata de uma prostituta, de mulheres que não são de nossa família e ainda, quando o fato é causado por um amigo nosso, a principal reação é "analisar bem os fatos" e ver que a mulher pode ter provocado e ser ela a culpada afinal. Absurdo!!
Espero que não chegue por aqui a punição do Islã, no Brasil tudo é no subjetivo, ou seja, muitas vezes a punição é mascarada. Devemos lembrar sempre da adolescente de 15 anos que foi presa em uma cadeia no interior de Manaus com vários homens, sendo violentada por todos eles em troca de comida. A garota clamava ser solta, mas nem juíza nem a delegada, responsáveis pelo seu encarceramento, deram-lhe ouvidos, pois estavam cumprindo a lei... Violência contra a mulher é inconcebivel, inadmissivel e inaceitável! !!
Parta de quem for!


Mabel Dias
Grupo Wendo João Pessoa

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Educação,cultura e consumo.


Cultura é bom e faz crescer
Por: Thalita C.

Acredito que o acesso a educação é a melhor maneira de nos libertamos de todos os males sociais.
O acesso a cultura nos dias atuais ainda é muito limitado, anda a passos de formiga, enquanto a necessidade intetectocultural da sociedade é muito grande.
A população cresce e a miséria acompanha na mesma trilha, essa era digital só vulgariza ainda mais as diferenças econômicas, inclusão que é bom? Só se ouve falar. O comércio se aproveita deste bordão para ampliar ainda mais o leque do consumo, deslumbrar os moribundos e aumentar a violência devido a sede de possuir aquilo que todo mundo ''deve ter''. Agora aguentemos, conssumamos e cruzemos os braços, amanhã você se surpreende com um assalto e a tua inocente reflexão é que pobre é marginal.
Quem é marginal? Qual a maior agressão?



Música para os ouvidos, ou melhor, olhos. :)

Pagu
Maria Rita
Composição: R. Lee E Z. Duncan

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira Sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Ratátátá
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem
Minha mãe é Maria-Ninguém
Não sou atriz-modelo-dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Ratátátá
Destruindo o patriarcado na busca de uma sociedade anarquista


Desde a infância há imposição da sociedade, da família e da religião de como deve se comportar cada um dos gêneros. As cores que devem usar; do que devem gostar; como devem brincar. Para os meninos, o azul, o carro. Para as meninas, o rosa, o fogãozinho. Deste modo, se determina o espaço público para os homens e o espaço privado para as mulheres.
Esses papéis são puramente culturais, nada há de natural como demonstram pesquisas no ramo da psicologia e da antropologia. Essa cultura patriarcal oprime as mulheres e limita os homens.
Diversos fatores exteriorizam o patriarcado (dominação do gênero masculino sobre o feminino) como, por exemplo, o mito de Adão e Eva, que legitima a submissão feminina.
De acordo com José Carlos Leal, no mito do Gênesis, a mulher não estava nos planos de deus, foi criada apenas como decorrência das necessidades do homem. Diz o texto: “não é bom que o homem esteja só, façamo-lhes um adjuntório (ajuda) semelhante a ele”. Outra parte importante presente no Gênesis é quando a mulher comete o pecado original (quando Eva oferece do fruto da árvore proibida para Adão), sendo culpada por todos os males da humanidade, “assinando” assim sua sentença de submissão. Mas, e porque a serpente tenta Eva e não Adão? É interessante o argumento usado por Adão para se justificar com deus: “A mulher que me destes por companheira, deu-me do fruto da árvore e eu comi”. Eva desestabilizou a relação do homem com deus, portanto é um ser destrutivo e merece ser punida com a submissão ao homem. Será assim até o “fim dos tempos?”
Até hoje, século XXI d.c., apesar das descobertas cientificas que derrubaram essa lenda ainda há nela uma forte crença, alimentada pela classe dominante, de modo utilitário para seus propósitos.
Com a passagem da sociedade nômade para a civil, o homem começou a limitar terrenos, cercando-os determinando assim o que era seu. Começa aí a se formar a propriedade privada. Nas sociedades nômades, as relações entre homens e mulheres eram poligâmicas. Com o advento da propriedade privada, esta relação passa a ser monogâmica para que o homem soubesse o que lhe “pertencia”, sendo assim, além das terras, casa e animais, as mulheres também passaram a ser propriedade.
Atualmente, com a burguesia e o modo da economia capitalista, a figura feminina continua a ser colocada em uma situação de passividade. As mulheres executam o mesmo trabalho que os homens e recebem menos e o trabalho das donas-de-casa não é valorizado. Aos homens também são reservados os melhores empregos, mesmo que estes tenham grau de escolaridade menor.
Isso não significa dizer que pretendemos concorrer com os homens por melhores empregos, salários nem cargos de poder, pois não acabariam com a situação de opressão, apenas se inverteriam os papéis, como sugerem algumas feministas.
Queremos demonstrar a desigualdade entre os sexos, causada pela sociedade burguesa capitalista. O patriarcado castra a liberdade sexual tanto dos homens quanto das mulheres; eles sofrem a pressão da poligamia mecânica enquanto elas, a repressão dos desejos. Homens e mulheres que se relacionam com pessoas do mesmo sexo ficam excluídas do mercado de trabalho e da sociedade como um todo, pois sua orientação sexual quebra o padrão estabelecido.
Outro modo de se utilizar os papéis de gênero pelo capitalismo é a exploração da imagem da mulher, sendo literalmente vendida como objeto sexual através da mídia. É cada vez maior o número de grupos de forró, “axé music” e funk que exploram a figura feminina de uma maneira aviltante. A mídia (TV, rádio, jornal, entre outras) contribui de maneira significativa com toda a difusão deste tipo de cultura de massa, fazendo com que se mantenha a discriminação em relação à mulher e, consequentemente a conservação do sistema de gênero.
Estamos em pleno século XXI, mas se formos fazer uma pesquisa constataremos que o número de mulheres que ainda apanham dos maridos/namorados/companheiros e se submetem as vontades deles é alarmante. Na Paraíba, por exemplo, soubemos de um caso de uma mulher que para “não ser mal vista” na cidade onde mora, pois já não era mais virgem, iria se submeter a uma cirurgia de reconstituição do hímen para que no dia que fosse ter relações com o marido, ele não notasse. Ainda se mata por ciúmes; a mulher é vista como propriedade dos maridos; em relação aos homens, a situação não é diferente: grande parte das mulheres que se encontram encarceradas, estão por terem matado os maridos depois de saberem que eles mantinham um outro relacionamento. Porém, este último caso é bem mais raro de acontecer.
Já no movimento anarcopunk, que completou recentemente 30 anos de existência, as discussões sobre gênero são bastante recentes e incipientes, como também no movimento anarquista. Com as anarcofeministas, antigas e atuais, é que este panorama começou a mudar, pois elas formaram grupos de discussão e atuação, passando assim a questionar a relação homem/mulher dentro do meio punk. Tal impulso se deu porque as mulheres anarcopunks e anarquistas perceberam que, dentro do próprio movimento, os papéis de gênero eram mantidos, tanto por mulheres quanto por homens. Mesmo @s punks quebrando todos os padrões, este ainda continuava a existir.
Anarquistas como Emma Goldam, Maria Lacerda de Moura, a libertária Flora Tristán, entre outras, começaram a colocar em discussão, seja de maneira individual ou coletiva, no movimento anarquista dos séculos XIX/XX, a opressão que as mulheres sofriam na recente sociedade industrial, brasileira e européia. Os homens libertários, como hoje, não davam tanta importância a exploração pela qual as mulheres passavam nas fábricas (para onde levavam suas/seus filh@s) nem em casa. E as próprias mulheres não tinham espaço para colocar o que sofriam. Só a partir da inserção das mulheres dentro do movimento anarquista e em outros espaços de discussão, é que este quadro começou a mudar.
Assim como a partir da criação de grupos anarcofeministas e da organização das mulheres no mesmo. Não é à toa que foram as mulheres que trouxeram à tona a discussão sobre o sistema de gênero; pois são elas que sentem as dificuldades quando saem às ruas; quando vão parir; quando decidem não se casar; quando vão falar em público; quando decidem amar outras mulheres.
Um fato que ilustra bem o desinteresse dos anarcopunks/anarquistas em discutirT sobre gênero foi quando aconteceu a divisão dos temas no 9ª Encontro AnarcoPunk (realizado em João Pessoa, em 2005) para serem colocados nesta revista*. Apenas mulheres se interessaram para elaborar este texto.
Casos de violência vêm acontecendo com freqüência dentro do movimento anarcopunk e o pior é que não se é dada a devida atenção a eles. Mulheres libertárias são agredidas por aqueles que escolheram para serem seus companheiros e que assumem uma postura anarcopunk de combate a violência contra a mulher, cantando em suas bandas, escrevendo em seus zines ou berrando em seus discursos. Só que na prática...
A construção do gênero masculino também é dolorosa. Mas não há por parte dos homens nenhuma expressão de descontentamento em relação aos papéis que a sociedade lhes destinou. Então, será que os homens gozam de privilégios? Será que tais papéis não lhes trazem mais benefícios que malefícios? Podemos dizer que a opressão em relação aos homens se dá de maneira sutil, por isso não há uma percepção tão clara da opressão que sofrem, mas mesmo assim porque eles não se manifestam?
Alguns têm se organizado e participado ativamente de grupos de mulheres/feministas/anarcofeministas e de círculos onde se debate o sistema de gênero e a violência contra a mulher. Mas, a grande maioria continua inerte!
Apesar de já fazer parte do cotidiano do movimento anarcopunk e anarquista, o anarcofeminismo ainda causa polêmica. Boa parte d@s anarquistas/anarcopunks diz que o anarcofeminismo é desnecessário já que o anarquismo engloba a luta de tod@s @s oprimid@s; outr@s dizem que é “o machismo às avessas” e que não faz sentido existir, entre tantas outras colocações.
Na realidade, por falta de interesse das pessoas em estudar sobre o assunto e de materiais que falem sobre o tema é que existem tantas colocações, que geram mais confusão do que entendimentos. O anarcofeminismo não é nada disso que se coloca, mas sim a luta das mulheres anarquistas e que, consequentemente, abraça as causas que oprimem o ser masculino. Diferente de algumas feministas, as anarcofeministas não vêm a libertação da mulher isolada da dos homens. O anarcofeminismo não é segregacionista quando defende espaços para discussão apenas com mulheres, muitas vezes isto acontece de uma maneira tão natural (vejam o exemplo da elaboração deste texto). Há interesse dos homens em discutir, só para citar um tema, sobre gênero? Há interesse dos homens em discutir sobre libertação feminina?
Não há motivo para pânico quando as mulheres se reúnem. É apenas um meio encontrado para a organização feminina, tornando-as assim mais fortes e unidas, visto que o patriarcado fragiliza e coloca as mulheres como rivais e não aliadas.
Os homens também devem se reunir entre si e com as mulheres e expressar esta opressão que eles dizem afligi-los, pois só junt@s, mulheres e homens livres poderão destruir o sistema de gênero e construir uma sociedade igualitária de verdade.

*Este texto seria colocado na revista da Federação AnarcoPunk, proposta durante o 9ª ENAP, mas infelizmente o material não teve êxito. Não querendo perder este texto, que foi produzido com muito esforço, estamos disponibilizando-o a vocês!

Lilá, Mabel, Tatiana e Déborah

João Pessoa, 11 de maio de 2006

sábado, 24 de novembro de 2007

Violência contra a mulher é entretenimento popular?!

Violência contra mulher é entretenimento popularsubtitulo = 'Como pode uma nação que abomina as punições cruéis e inusitadas adorar assistir a toda espécie de violência cruel e inusitada, como forma de distração?'

Como pode uma nação que abomina as punições cruéis e inusitadas adorar assistir a toda espécie de violência cruel e inusitada, como forma de distração?Joanne OstrowThe Denver PostEm Denver, ColoradoNum dos últimos episódios de "CSI", a série dramática mais popular dos Estados Unidos, a cabeça de uma mulher foi encontrada num caixote de jornais à venda. Ao conferir o estado da vítima, um técnico legista encontrou e arrancou uma cobra lá dentro da boca decapitada. Ao final de uma hora de programa (no episódio exibido pela primeira vez em janeiro), os detetives localizaram o assassino da mulher através das marcas de pneu sobre o casaco de couro dela, e logo depois a decapitação foi reencenada num flashback. Mais de 28 milhões de pessoas assistem a "CSI" na CBS americana a cada semana, se emocionando com as perseguições aos criminosos e com os repugnantes efeitos especiais. Até mesmo nas reprises, as reconstituições criminais são líderes de audiência. A contagem de corpos mostra que não faltam vítimas do sexo masculino, mas são as mulheres que recebem o tratamento mais horripilante. Apesar dos estudos que levantam preocupações quanto aos efeitos da violência produzida pela mídia, e mesmo diante das objeções feitas por vários grupos de interesse, a violência contra as mulheres continua servindo como uma receita infalível no cardápio do entretenimento popular. Nessa atual temporada de estréias americanas, a exibição de cenas de estupro, torturas e assassinato de mulheres tem sido um recurso especialmente popular para a apresentação de episódios de um programa de TV. Num momento em que os Estados Unidos proclamam seus altos valores morais nos conflitos globais, a televisão manifesta algo de desconfortável sobre a nossa cultura. Como pode uma nação que abomina as punições cruéis e inusitadas adorar assistir a toda espécie de violência cruel e inusitada, como forma de distração? "A exploração dos perigos vividos pela donzela funciona como ferramenta de marketing --e isso desde Fay Wray (no "King Kong" de 1933), segundo Matthew Felling, do Centro de Estudos de Mídia e Assuntos Públicos, na capital do país, Washington. Ele acredita que os americanos são espectadores mais para guerreiros do que para voyeurs-- "Queremos ver o cumprimento da justiça e os malfeitores punidos". Na diversão em horário nobre, "nós não queremos finais a la Chandra Levy, queremos desfechos a la Elizabeth Smart", diz Felling, se referindo às vítimas de dois casos-obsessões do noticiário nacional propagado pela TV a cabo. (O assassino de Levy nunca foi identificado, enquanto Smart, a abduzida, voltou sã e salva para sua família.) Em nossa cultura, jamais permitiríamos que uma mulher fosse apedrejada até a morte por ter cometido adultério, mas nós usamos imagens da degradação feminina para vender produtos. (Apesar das constatações de que os espectadores se recordam menos dos comerciais quando esses são justapostos com imagens violentas, os anunciantes chegam a pagar U$ 465.000 --equivalente a mais de R$ 1 milhão-- por um comercial de 30 segundos no intervalo de "CSI", segundo informa a revista AdWeek.) A VIOLÊNCIA VENDE PROGRAMAS-PILOTOSGrande parte da violência contra a mulher na atual temporada veio nos programas-pilotos exibidos pelas grandes redes, que são usados para vender uma série para os executivos das redes e para os anunciantes, e também para atrair a atenção dos espectadores para um determinado programa. Os programas da atual temporada começaram com uma explosão de violência contra as mulheres, vítimas de alienígenas, de forças sobrenaturais ou de simples criminosos da raça humana. Inegavelmente, essa foi uma tendência. Mulheres foram abduzidas num automóvel, enclausuradas e torturadas numa caverna ("Criminal Minds" na CBS); retiradas do chuveiro para ter um feto arrancado do útero (na recém-cancelada "NightStalker" na ABC); e atacadas por aranhas desprendidas por um assaltante que depois estupra e mata uma mulher ("Killer Instinct" na Fox).Uma mulher chegou a pegar fogo espontaneamente depois de ter sido arremessada contra o teto do quarto de seu bebê, numa ação de forças desconhecidas ("Supernatural", na rede WB). Há algo de errado numa indústria em que os produtores acreditam que devem apelar para descrições de estupros, de atos de tortura ou de assassinatos horripilantes para atrairem a atenção das grandes redes de TV. "Em termos culturais, estamos num momento muito confuso no que diz respeito à imagem das mulheres", diz a escritora feminista Jennifer Pozner, fundadora e diretora da organização Mulheres na Mídia & Imprensa. Essa dependência da televisão em relação à violência contra as mulheres não é nenhuma novidade. Em "Law & Order: Special Victims Unit", que agora está em sua sétima temporada, "toda a série está fundamentada em `como podemos estuprar, torturar, assassinar e mutilar mulheres a cada semana?"' Os críticos acreditam que foi o sucesso de "CSI" que provocou essa nova onda de imagens de violência hedionda. O motivo pelo qual "CSI" vence seus competidores até mesmo nas reprises, teoriza Felling, é porque a série apresenta uma "justiça perfeitamente empacotada". O público não se importa de ver crimes horrendos, desde que no final os criminosos sejam devidamente capturados. A explícita "CSI" e suas séries derivadas "CSI: Miami" e "CSI: NY" mostram que esse senso de justiça funciona. Da mesma forma, "Law & Order" é praticamente a série "Gunsmoke" para o novo milênio. PONTO DE VIRADA CULTURALEra um outro momento cultural quando, em 1988, Jodie Foster e Kelli McGillis co-estrelaram "Acusados", filme baseado num incidente real sobre uma mulher que foi estuprada por uma gang e que fica indignada com a sentença leve recebida pelos homens que a atacaram, ataque motivado por ela ter sido considerada de "caráter questionável". A vítima (Foster) exige que uma promotora (McGillis) condene os homens que literalmente se confraternizaram durante o estupro. O filme acende a questão do trauma e dos horrores jurídicos vividos por vítimas de estupro, além de examinar a tendência da sociedade em culpar quem sofre o estupro.Marcando uma virada na abordagem por parte da cultura-pop, "Acusados" provocou uma observação mais séria a respeito da ocorrência e das causas do estupro. O filme também provocou análises por parte da mídia, quanto à correlação entre o fato de se assistir às cenas de estupro numa tela e a ocorrência de crimes na vida real. Essa mensagem parece que surgiu com o filme mas depois se perdeu. O estupro cada vez mais figura no centro das tramas, enquanto a televisão procura rivalizar com as imagens violentas exibidas nas salas de cinema. E outras produções do horário nobre americano seguem a tendência lançada por "CSI". A audiência massacrante e o alto valor do intervalo comercial na CBS estabelecem um padrão para hábitos violentos. Na semana passada, em "CSI: Miami", uma mulher foi morta por um instrumento de solda; essa semana, um assalto a banco terminou em estupro. Mais uma semana, mais um crime sexual hediondo. O sensacionalismo vende, não é só o sexo que vende, observa a feminista Pozner. Os anunciantes não chegam a se escandalizar com imagens ultrajantes; eles querem tudo o que venha a atrair os olhares para a tela. As redes alegam que dão aos espectadores o que eles querem, argumentando que 28 milhões de pessoas não podem estar enganadas. Do ponto de vista de Jennifer Pozner, os produtores e as redes tendem a se pronunciar através de códigos. Quando eles dizem "audacioso" querem dizer "sexo e violência". "Se você aumenta o grau do choque sensacional", ela diz, "você está aumentando o grau de violência contra as mulheres". Uma teoria sustenta que o aumento da violência na TV é em parte atribuível à reação da censura após o episódio do seio nu instantâneo de Janet Jackson. Os produtores de televisão não podem exibir nudez, então apelam para a violência. "Estamos num período de ataques contra as mulheres e contra o feminismo ", conclui Pozner. É APENAS O CRIME E SEUS NEGÓCIOSMas, se realmente cresce nos últimos tempos a incidência de violência contra as mulheres na TV, com a exibição de algumas cenas bizarras, outros analistas da indústria se recusam a tirar conclusões mais abrangentes sobre esse propalado anti-feminismo. Eles argumentam que o gênero cresce apenas por causa desse imenso sucesso financeiro. Em outras palavras, são apenas negócios. "O que observamos é muito menos uma vingança contra o feminismo ou um interesse renovado em colocar as mulheres como objetos em perigo, e muito mais a preponderância desse gênero de série policial de investigações", diz Robert Thompson, guru da cultura pop na Universidade de Syracuse. Para criar dramas de investigação instigantes ano após ano, os roteiristas elaboram crimes audaciosos o bastante para manter a audiência durante uma hora. "Assim eles escrevem sobre o que culturalmente é considerado o mais ultrajante dos crimes", segue o guru Thompson , "que é o crime contra mulheres e crianças." Segundo esse ponto de vista, aumentar o tom da criminalidade nas séries faz com que os roteiristas criem o anseio no público para assistir à punição do crime. E para proporcionar aos programas um ar contemporâneo e manter a atenção dos espectadores, de vez em quando os criminosos se dão bem (o estuprador serial riu por último no episódio de "Law & Order: SVU" exibido na semana retrasada nos EUA). Seja qual for o motivo, seja por razões financeiras ou seja por motivos enraizados mais profundamente na psique da nação, não há maneiras de evitar o poder brutal das imagens da TV, especialmente nas imagens contra as mulheres. Jennifer Pozner ainda tem pesadelos provocados por um episódio de "Law & Order: Special Victims Unit", série sobre uma divisão que cuida de vítimas especiais, em que é exibido um estupro no metrô, diante de muitas pessoas. A câmera se detém nos olhos da mulher enquanto um homem cobre a boca da vítima, e aí corta-se para um dos carros do metrô cheio de passageiros, que não tiram olhos de suas leituras. "Foi a demonstração mais visceral de impotência coletiva desde a cena do estupro sobre o fliperama em 'Acusados'", diz Jennifer Pozner. ALTERAÇÃO DA PERCEPÇÃO SOBRE OS DESCONHECIDOSEnquanto as estatísticas provam que os crimes sexuais em sua maioria são cometidos por alguém que a vítima conhece, a televisão freqüentemente sugere o oposto. Os espectadores ficam com a impressão de que as mulheres devem temer os estranhos que surgem no mundo exterior. "Esses programas estão aí para faturar com o terror contra as mulheres", diz Pozner. "O problema nesses programas é que as mulheres não têm escapatória, existem para ser mutiladas, torturadas, para serem vítimas sexy dos estupros ou para ser as lindas garotas-cadáveres." Thompson contra-argumenta que uma revisão cuidadosa de certos episódios de séries dramáticas exibidos pelas grandes redes indica que eles são freqüentemente menos explícitos do que imaginam os espectadores. "Grande parte do horror fica subentendido nos diálogos." Mesmo assim, há muitas cenas explícitas. As pessoas que trabalham com vítimas de violência sexual ficam perplexas e não entendem como o público pode assistir a tantos massacres e encará-los como mera atividade de lazer. "Há um grande descompasso entre o que as pessoas assistem na televisão e o que elas passam em suas próprias vidas", diz Christina Walsh, do Centro Nacional sobre Violência Sexual e Doméstica, uma organização sem fins lucrativos baseada no estado do Texas. "As pessoas simplesmente dizem, 'Isso é apenas diversão, a vida real não é assim'". "As pessoas têm um mecanismo de preservação altamente afiado para si mesmas --dizem assim, 'minha vida está segura, esse tipo de crime jamais interromperia a minha vida'", diz Christina Walsh. "Nós funcionamos nessa espécie de bolha. É o nosso instinto, o de olhar a violência na TV como quem olha um acidente de trânsito." Walsh prefere não assistir. Como tantas pessoas que trabalham na área de saúde mental, ela acha que a violência contra as mulheres na ficção é cortante e afiada demais para ser encarada como uma simples diversão. A motivação, de acordo com Alan Entin, psicólogo em Richmond, Estado de Virginia, é regida pelas "emoções baratas. Acredito que vários roteiristas são seres raivosos, e especialmente raivosos contra as mulheres". Sob esse aspecto, a violência na TV simplesmente reflete o fato de que muitas pessoas são violentas em suas próprias vidas, ou têm a violência a flor da pele. Dessa maneira chegam aos nossos lares raivas e medos num movimento que parece não ter fim --tudo em nome do entretenimento e da diversão. Tradução: Marcelo Godoy

sábado, 17 de novembro de 2007

Porque treinar nosso corpo?

PORQUE TREINAR NOSSO CORPO?

O desenvolvimento da força e das habilidades físicas sempre foram atividades por razões culturais majoritariamente praticadas por homens. Por isto, não é surpreendente que eles tenham mais força do que nós, mulheres. Talvez, se nos dedicarmos também a consertar carros e os homens à educação das crianças, as coisas sejam mais diferentes.
Conhecer as possibilidades de nosso corpo e começar a desenvolver os músculos (que temos igual ao dos homens) nos dá a possibilidade de sentirmos com maior segurança, confiança e autonomia.
Ademais, a atividade física gera saúde, renova, faz circular a energia e nos dá maior equilíbrio físico e mental.
Romper com este mito estabelece uma questão biológica ou inata aos homens, dizendo que eles têm mais força que as mulheres, é tão simples como aprender a prescindir deles. Por exemplo, na hora de mover um móvel em vez de chamar um homem para que nos ajude, porque não chamar uma amiga para fazê-lo? É um grande passo!
Tanto a força como as atividades culturalmente determinadas para os gêneros (masculino/feminino) são um mito facilmente destruído. É tão simples para uma mulher aprender a mudar o pneu do carro, como é pra o homem ajeitar a cama ou lavar a roupa.
A aprendizagem de ofícios úteis como eletricidade, mecânica, etc e a destreza física mostram a autonomia e independência de toda pessoa.
Um dado concreto é saber que se necessita a mesma força pra levantar quatro quilos de verduras, que romper quebrar madeira com um golpe correto. Muitas vezes não é a força que vale na hora de defender-se, e sim a confiança em você mesma e a técnica muito bem utilizada.

Punidas por serem mulheres

The New York Times

16:00 02/11

Bob Herbert
Noivas sendo queimadas, assassinatos em nome da honra, tráfico de sexo, estupros em massa como armas de guerra e muitas outras formas terríveis de violência contra mulheres são documentadas num relatório da ONU publicado no mês passado.

Leia abaixo o texto
O relatório, uma compilação de muitos estudos pelo mundo, deveria ser visto como o mais novo alarme dessa guerra mundial permanente - uma guerra contra as mulheres em todo o planeta. Ao invés disso, a mídia em geral recebeu seu chocante conteúdo com um bocejo coletivo.
A analogia da guerra não deve ser subestimada. Em muitas partes do mundo, homens espancam, torturam e matam mulheres impunemente. Em Cidade Juarez, uma cidade mexicana na fronteira com o Texas, entre 300 e 400 mulheres foram assassinadas nos últimos anos. Muitas foram estupradas e mutiladas. A crença de que tais crimes sairíam impunes foi fator "decisivo" para que ocorressem, diz o relatório.
A cada ano milhares de esposas na Índia são assassinadas e mutiladas - muitas delas, mergulhadas em querosene e queimadas - pelos maridos insatisfeitos com o tamanho dos dotes ou irritados com o comportamento das mulheres. Na Etiópia, o seqüestro e estupro de meninas é prática comum para que homens obtenham esposas. Em muitos casos, os pais concordam com os casamentos, acreditando que a criança estuprada não serve mais para casar com ninguém.
No Paquistão, uma mulher não pode provar legalmente que foi estuprada a não ser que quatro homens "virtuosos" muçulmanos testemunhem o ataque. Sem as quatro testemunhas, a mulher se torna vulnerável a ser processada por adultério e fornicação.
Enquanto não existem dúvidas de que homens mutilam e matam outros homens em números exorbitantes, o que quero reportar aqui é a maneira de que as mulheres, aos milhões, estão sistematicamente virando alvos de ataques só porque são mulheres.
Em alguns casos a violência sexual vem em ondas grandes e doentias. É só pensar, por exemplo, em Darfur, Congo, Sudão e a ex-Iugoslávia. Segundo o relatório, "a incidência de violência contra as mulheres no conflito armado, especialmente a violência sexual, incluindo estupros, está cada vez mais reconhecida e documentada".
Mais de 130 milhões de meninas e mulheres vivem com as conseqüências da mutilação dos órgãos genitais, e muitas outras morreram por conta dessa prática cruel. Jessica Neuwirth, presidente da Equality Now, uma organização de direitos da mulher disse: "Qualquer mulher que já foi mutilada conhece alguém que morreu por conta disso. Elas morrem de hemorragia, ou infecções, ou desenvolvem problemas enormes de saúde no futuro".
A descrição dos sérios abusos contra as mulheres parece interminável: casamentos infantis, casamentos forçados, seqüestros e prostituição forçada, escravidão sexual. De acordo com o relatório da ONU, "um estudo na Índia estima que a seleção de sexo pré-natal e infanticídio são a razão de mais de meio milhão de desaparecimentos de meninas ao ano nos últimos 20 anos".
A forma mais comum de abuso contra mulheres e jovens pelo mundo é a violência pelos parceiros. Grandes porcentagens de mulheres vítimas de assassinato, mesmo em países desenvolvidos como Austrália, Canadá, Israel e EUA, são mortas pelos ex-namorados, ex-maridos ou os companheiros atuais".
Um estudo de mulheres jovens vítimas de assassinato nos EUA descobriu que o homicídio era a segunda maior causa de morte para garotas entre 15 e 18 anos, e que 78% de todas as vítimas de homicídio foram assassinadas por um conhecido ou um parceiro íntimo.
A pesquisa da ONU afirma o que já deveríamos ter concluído: que essa impregnante violência contra as mulheres, "perpetrada pelo estado e seus agentes", por estranhos ou familiares, na esfera pública ou privada, em tempos de paz ou guerra", é inaceitável.
Não só não estamos fazendo o suficiente para impedir essa destruição das vidas de tantas mulheres e jovens, tamém não estamos prestando atenção suficiente. Existem movimentos femininos até nos menores países do mundo, lutando contra a violência e outras formas de abuso. Mas tais organizações não possuem fundos e muito pouco apoio daqueles que poderiam ajudar. Até no Afeganistão do Talibã existem mulheres que dirigem escolas clandestinas, e meninas que arriscam suas vidas para estudar.
Havia um tempo em que ativistas clamavam pelo aumento da consciência coletiva. Não é tarde demais. Podemos começar reconhecendo que a sistemática subordinação e brutalização das mulheres pelo mundo de fato acontece - e que precisamos fazer algo à respeito.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Vivência em Joâo Pessoa

Vivêcia em João Pessoa - por: Thalita Cabral
Dia 15/11/07

Na nossa primeira vivência em João Pessoa-PB, contamos com a presença de 8 mulheres.
Uma nova experiência para nosso grupo que fez agora no mês de outubro seu 1º ano de existência.
Tudo que aconteceu na vivência, as dinâmicas, as discussões, o treino, foi muito positivo, houve uma boa interação das participantes e um otimo diálogo em relação ao que é o wendo.
isso só nos traz mais força ainda para combater a violência contra a mulher, as relações de poder pré-estabelecidas pela sociedade e tudo mais que envolva opressão feminina, específicamnete falando.
Esta é só a minha breve visão sobre este momento, ainda há muito a ser combatido, principalmente em nós mesmos.
Combater não é só bater, é dialogar,esclarecer. Afinal, todo acesso a informação é um meio de chegar mais próximo e rápido a liberdade.

Poema composto por mim na vivência:

Eu falo
E quando falo
Eu chego
E quando chego
Eu abro
E quando abro
Eu fecho



domingo, 4 de novembro de 2007

Autonomia, mulheres?

Esta é a primeira postagem no Blogguer do wendo de João Pessoa. Faremos aquí alguns informativos e escreveremos alguns temas relacionados às mulheres.
Este é o cartaz da nossa 1º vivência em João Pessoa, que acontecerá no centro cultural do terceiro setor, como explica o cartaz.

Thalita Cabral