segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Não se cale!

ARTIGO



Esta semana uma mulher muçulmana foi condenada pela corte da Arábia Saudita a 90 chibatadas e seis meses de prisão por estar na companhia de um homem, que não era de sua família e por ter sido estuprada por um grupo formado por aproximadamente seis homens.
O advogado da vitima apelou a corte e pediu absolvição da mulher. O juiz então, para reforçar ainda mais a sua ira misógina, determinou que a mulher deveria em vez de 90 levar 200 chibatadas!
Mas a pressão de grupos internacionais fez com que esta muçulmana fosse absolvida de "seu crime" e ela foi liberada de sofrer as chibatadas e assim, conforme a lei do Islã, pagar por estar acompanhada de um homem que não era de sua família, e ainda ter sido estuprada por um grupo de homens.
No Brasil, não vivemos sob a religião muçulmana, mas uma mulher quando é estuprada ainda é considerada culpada pela violência que sofreu. E os argumentos são os mais estaparfúdios possíveis e tod@s nós conhecemos.
Mesmo com toda a ação do movimento feminista frente a este tema da violência contra a mulher ter sensibilizado boa parte da sociedade, a cultura patriarcal ainda é muito forte e bastante presente. A luta então deve ser diária e contínua.
Quando se trata de uma mulher de nossa família, sempre queremos matar o estuprador ou fazer "justiça" de qualquer jeito. Mas quando se trata de uma prostituta, de mulheres que não são de nossa família e ainda, quando o fato é causado por um amigo nosso, a principal reação é "analisar bem os fatos" e ver que a mulher pode ter provocado e ser ela a culpada afinal. Absurdo!!
Espero que não chegue por aqui a punição do Islã, no Brasil tudo é no subjetivo, ou seja, muitas vezes a punição é mascarada. Devemos lembrar sempre da adolescente de 15 anos que foi presa em uma cadeia no interior de Manaus com vários homens, sendo violentada por todos eles em troca de comida. A garota clamava ser solta, mas nem juíza nem a delegada, responsáveis pelo seu encarceramento, deram-lhe ouvidos, pois estavam cumprindo a lei... Violência contra a mulher é inconcebivel, inadmissivel e inaceitável! !!
Parta de quem for!


Mabel Dias
Grupo Wendo João Pessoa

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Educação,cultura e consumo.


Cultura é bom e faz crescer
Por: Thalita C.

Acredito que o acesso a educação é a melhor maneira de nos libertamos de todos os males sociais.
O acesso a cultura nos dias atuais ainda é muito limitado, anda a passos de formiga, enquanto a necessidade intetectocultural da sociedade é muito grande.
A população cresce e a miséria acompanha na mesma trilha, essa era digital só vulgariza ainda mais as diferenças econômicas, inclusão que é bom? Só se ouve falar. O comércio se aproveita deste bordão para ampliar ainda mais o leque do consumo, deslumbrar os moribundos e aumentar a violência devido a sede de possuir aquilo que todo mundo ''deve ter''. Agora aguentemos, conssumamos e cruzemos os braços, amanhã você se surpreende com um assalto e a tua inocente reflexão é que pobre é marginal.
Quem é marginal? Qual a maior agressão?



Música para os ouvidos, ou melhor, olhos. :)

Pagu
Maria Rita
Composição: R. Lee E Z. Duncan

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira Sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Ratátátá
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem
Minha mãe é Maria-Ninguém
Não sou atriz-modelo-dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Ratátátá
Destruindo o patriarcado na busca de uma sociedade anarquista


Desde a infância há imposição da sociedade, da família e da religião de como deve se comportar cada um dos gêneros. As cores que devem usar; do que devem gostar; como devem brincar. Para os meninos, o azul, o carro. Para as meninas, o rosa, o fogãozinho. Deste modo, se determina o espaço público para os homens e o espaço privado para as mulheres.
Esses papéis são puramente culturais, nada há de natural como demonstram pesquisas no ramo da psicologia e da antropologia. Essa cultura patriarcal oprime as mulheres e limita os homens.
Diversos fatores exteriorizam o patriarcado (dominação do gênero masculino sobre o feminino) como, por exemplo, o mito de Adão e Eva, que legitima a submissão feminina.
De acordo com José Carlos Leal, no mito do Gênesis, a mulher não estava nos planos de deus, foi criada apenas como decorrência das necessidades do homem. Diz o texto: “não é bom que o homem esteja só, façamo-lhes um adjuntório (ajuda) semelhante a ele”. Outra parte importante presente no Gênesis é quando a mulher comete o pecado original (quando Eva oferece do fruto da árvore proibida para Adão), sendo culpada por todos os males da humanidade, “assinando” assim sua sentença de submissão. Mas, e porque a serpente tenta Eva e não Adão? É interessante o argumento usado por Adão para se justificar com deus: “A mulher que me destes por companheira, deu-me do fruto da árvore e eu comi”. Eva desestabilizou a relação do homem com deus, portanto é um ser destrutivo e merece ser punida com a submissão ao homem. Será assim até o “fim dos tempos?”
Até hoje, século XXI d.c., apesar das descobertas cientificas que derrubaram essa lenda ainda há nela uma forte crença, alimentada pela classe dominante, de modo utilitário para seus propósitos.
Com a passagem da sociedade nômade para a civil, o homem começou a limitar terrenos, cercando-os determinando assim o que era seu. Começa aí a se formar a propriedade privada. Nas sociedades nômades, as relações entre homens e mulheres eram poligâmicas. Com o advento da propriedade privada, esta relação passa a ser monogâmica para que o homem soubesse o que lhe “pertencia”, sendo assim, além das terras, casa e animais, as mulheres também passaram a ser propriedade.
Atualmente, com a burguesia e o modo da economia capitalista, a figura feminina continua a ser colocada em uma situação de passividade. As mulheres executam o mesmo trabalho que os homens e recebem menos e o trabalho das donas-de-casa não é valorizado. Aos homens também são reservados os melhores empregos, mesmo que estes tenham grau de escolaridade menor.
Isso não significa dizer que pretendemos concorrer com os homens por melhores empregos, salários nem cargos de poder, pois não acabariam com a situação de opressão, apenas se inverteriam os papéis, como sugerem algumas feministas.
Queremos demonstrar a desigualdade entre os sexos, causada pela sociedade burguesa capitalista. O patriarcado castra a liberdade sexual tanto dos homens quanto das mulheres; eles sofrem a pressão da poligamia mecânica enquanto elas, a repressão dos desejos. Homens e mulheres que se relacionam com pessoas do mesmo sexo ficam excluídas do mercado de trabalho e da sociedade como um todo, pois sua orientação sexual quebra o padrão estabelecido.
Outro modo de se utilizar os papéis de gênero pelo capitalismo é a exploração da imagem da mulher, sendo literalmente vendida como objeto sexual através da mídia. É cada vez maior o número de grupos de forró, “axé music” e funk que exploram a figura feminina de uma maneira aviltante. A mídia (TV, rádio, jornal, entre outras) contribui de maneira significativa com toda a difusão deste tipo de cultura de massa, fazendo com que se mantenha a discriminação em relação à mulher e, consequentemente a conservação do sistema de gênero.
Estamos em pleno século XXI, mas se formos fazer uma pesquisa constataremos que o número de mulheres que ainda apanham dos maridos/namorados/companheiros e se submetem as vontades deles é alarmante. Na Paraíba, por exemplo, soubemos de um caso de uma mulher que para “não ser mal vista” na cidade onde mora, pois já não era mais virgem, iria se submeter a uma cirurgia de reconstituição do hímen para que no dia que fosse ter relações com o marido, ele não notasse. Ainda se mata por ciúmes; a mulher é vista como propriedade dos maridos; em relação aos homens, a situação não é diferente: grande parte das mulheres que se encontram encarceradas, estão por terem matado os maridos depois de saberem que eles mantinham um outro relacionamento. Porém, este último caso é bem mais raro de acontecer.
Já no movimento anarcopunk, que completou recentemente 30 anos de existência, as discussões sobre gênero são bastante recentes e incipientes, como também no movimento anarquista. Com as anarcofeministas, antigas e atuais, é que este panorama começou a mudar, pois elas formaram grupos de discussão e atuação, passando assim a questionar a relação homem/mulher dentro do meio punk. Tal impulso se deu porque as mulheres anarcopunks e anarquistas perceberam que, dentro do próprio movimento, os papéis de gênero eram mantidos, tanto por mulheres quanto por homens. Mesmo @s punks quebrando todos os padrões, este ainda continuava a existir.
Anarquistas como Emma Goldam, Maria Lacerda de Moura, a libertária Flora Tristán, entre outras, começaram a colocar em discussão, seja de maneira individual ou coletiva, no movimento anarquista dos séculos XIX/XX, a opressão que as mulheres sofriam na recente sociedade industrial, brasileira e européia. Os homens libertários, como hoje, não davam tanta importância a exploração pela qual as mulheres passavam nas fábricas (para onde levavam suas/seus filh@s) nem em casa. E as próprias mulheres não tinham espaço para colocar o que sofriam. Só a partir da inserção das mulheres dentro do movimento anarquista e em outros espaços de discussão, é que este quadro começou a mudar.
Assim como a partir da criação de grupos anarcofeministas e da organização das mulheres no mesmo. Não é à toa que foram as mulheres que trouxeram à tona a discussão sobre o sistema de gênero; pois são elas que sentem as dificuldades quando saem às ruas; quando vão parir; quando decidem não se casar; quando vão falar em público; quando decidem amar outras mulheres.
Um fato que ilustra bem o desinteresse dos anarcopunks/anarquistas em discutirT sobre gênero foi quando aconteceu a divisão dos temas no 9ª Encontro AnarcoPunk (realizado em João Pessoa, em 2005) para serem colocados nesta revista*. Apenas mulheres se interessaram para elaborar este texto.
Casos de violência vêm acontecendo com freqüência dentro do movimento anarcopunk e o pior é que não se é dada a devida atenção a eles. Mulheres libertárias são agredidas por aqueles que escolheram para serem seus companheiros e que assumem uma postura anarcopunk de combate a violência contra a mulher, cantando em suas bandas, escrevendo em seus zines ou berrando em seus discursos. Só que na prática...
A construção do gênero masculino também é dolorosa. Mas não há por parte dos homens nenhuma expressão de descontentamento em relação aos papéis que a sociedade lhes destinou. Então, será que os homens gozam de privilégios? Será que tais papéis não lhes trazem mais benefícios que malefícios? Podemos dizer que a opressão em relação aos homens se dá de maneira sutil, por isso não há uma percepção tão clara da opressão que sofrem, mas mesmo assim porque eles não se manifestam?
Alguns têm se organizado e participado ativamente de grupos de mulheres/feministas/anarcofeministas e de círculos onde se debate o sistema de gênero e a violência contra a mulher. Mas, a grande maioria continua inerte!
Apesar de já fazer parte do cotidiano do movimento anarcopunk e anarquista, o anarcofeminismo ainda causa polêmica. Boa parte d@s anarquistas/anarcopunks diz que o anarcofeminismo é desnecessário já que o anarquismo engloba a luta de tod@s @s oprimid@s; outr@s dizem que é “o machismo às avessas” e que não faz sentido existir, entre tantas outras colocações.
Na realidade, por falta de interesse das pessoas em estudar sobre o assunto e de materiais que falem sobre o tema é que existem tantas colocações, que geram mais confusão do que entendimentos. O anarcofeminismo não é nada disso que se coloca, mas sim a luta das mulheres anarquistas e que, consequentemente, abraça as causas que oprimem o ser masculino. Diferente de algumas feministas, as anarcofeministas não vêm a libertação da mulher isolada da dos homens. O anarcofeminismo não é segregacionista quando defende espaços para discussão apenas com mulheres, muitas vezes isto acontece de uma maneira tão natural (vejam o exemplo da elaboração deste texto). Há interesse dos homens em discutir, só para citar um tema, sobre gênero? Há interesse dos homens em discutir sobre libertação feminina?
Não há motivo para pânico quando as mulheres se reúnem. É apenas um meio encontrado para a organização feminina, tornando-as assim mais fortes e unidas, visto que o patriarcado fragiliza e coloca as mulheres como rivais e não aliadas.
Os homens também devem se reunir entre si e com as mulheres e expressar esta opressão que eles dizem afligi-los, pois só junt@s, mulheres e homens livres poderão destruir o sistema de gênero e construir uma sociedade igualitária de verdade.

*Este texto seria colocado na revista da Federação AnarcoPunk, proposta durante o 9ª ENAP, mas infelizmente o material não teve êxito. Não querendo perder este texto, que foi produzido com muito esforço, estamos disponibilizando-o a vocês!

Lilá, Mabel, Tatiana e Déborah

João Pessoa, 11 de maio de 2006